CRIME LESA-PÁTRIA

Bolsonaro condiciona negociação de tarifaço com EUA à aprovação de anistia; ouça áudio

Em mensagem a Silas Malafaia, ex-presidente afirmou que sem a votação da anistia não há possibilidade de diálogo sobre sanções impostas pelos Estados Unidos

Hanna Carvalho, Repórter do EM OFF

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou, em áudio enviado ao pastor Silas Malafaia, que sem a aprovação da anistia não existe possibilidade de o Brasil negociar a suspensão do chamado tarifaço imposto pelos Estados Unidos.

A mensagem, datada de 13 de julho, integra o relatório da Polícia Federal (PF) que indiciou Bolsonaro e seu filho, Eduardo Bolsonaro (PL-SP), por coação no processo da trama golpista e por articulações para influenciar autoridades norte-americanas contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e outras instituições brasileiras.

“Malafaia, o que eu mais tenho feito é conversar com pessoas mais acertadas. Se não começar votando a anistia, não tem negociação sobre tarifa”, disse Bolsonaro.

Na sequência, o ex-presidente ironiza tentativas de governadores, como Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), de intermediar o tema junto à embaixada norte-americana: “Não adianta um ou outro governador querer ir pros Estados Unidos, ir pra embaixada, tentar sensibilizar. Não vai só seguir. Da minha parte, é por aí pô”.

Segundo a PF, o áudio foi enviado após Malafaia orientar Bolsonaro a pressionar o STF com o discurso de que apenas a anistia ampla poderia barrar as tarifas impostas por Donald Trump. O pastor ainda sugeriu ao ex-presidente que vinculasse a questão não à economia, mas a “justiça e liberdade”, ressaltando que ministros do STF temeriam retaliações contra si e suas famílias.

“Você não vai xingar o STF. Você não vai esculhambar o Alexandre de Moraes. Mas você pode colocar, sim, e deve: ‘Olha, minha gente, a questão da tarifa de Donald Trump não tem a ver com economia, tem a ver com liberdade e justiça. Eu não quero ver retaliações sobre ministros do STF e suas famílias. É só resolver a questão da anistia que isso acaba’”, disse Malafaia, conforme a investigação.

A PF também aponta que o líder religioso teria afirmado ter contato com pessoas próximas a Trump e cobrado uma manifestação pública de Bolsonaro em alinhamento à narrativa de que a suspensão das sanções dependia da aprovação da anistia aos envolvidos na tentativa de golpe.