POLÊMICA

Caso Joe Biden: Entenda como envelhecimento pode afetar a saúde cognitiva

Nas últimas semanas, Joe Biden se tornou destaque por quedas, gafes e comportamentos incomuns

Hanna Carvalho
Repórter do EM OFF

Joe Biden, 82 anos, pode sair da corrida presidencial dos Estados Unidos devido a um possível declínio cognitivo. O atual comandante da América colocou em dúvida sua capacidade em concorrer à reeleição após aparições públicas e debates políticos que demonstraram uma confusão mental. Opositores e até mesmo integrantes do partido democrata, questionam a saúde e a idade avançada do presidente, sugerindo que ele deva desistir da candidatura.

Nas últimas semanas, Joe Biden se tornou destaque por quedas, gafes e comportamentos incomuns. Durante o primeiro debate televisivo contra Donald Trump, 78 anos, na última quinta-feira (27), o democrata se apresentou com uma voz fraca e reagiu com expressões perdidas aos questionamentos de seu opositor.

Em uma tentativa de contornar a imagem negativa criada em torno de suas atitudes públicas, o presidente atribuiu o mau desempenho no debate ao cansaço devido às viagens internacionais, durante um evento de campanha no estado da Virgínia. “Eu não fui muito inteligente. Decidi viajar ao redor do mundo algumas vezes, passando por cerca de 100 fusos horários antes do debate. Não dei ouvidos à minha equipe, voltei e quase adormeci no palco. Isso não é desculpa, mas é uma explicação”, justificou.

O que dizem os médicos?

Nesta terça-feira (2), a Casa Branca negou que o chefe do Executivo norte-americano tenha Alzheimer ou algum tipo de demência e negou estar escondendo informações sobre o estado de saúde do presidente. “Eu tenho uma resposta para você, você está pronto para isso? É um não! E espero que você esteja fazendo exatamente a mesma pergunta para o outro cara [Donald Trump]”, disse a porta-voz Karine Jean-Pierre, ao ser questionada por um repórter se Biden tem alguma doença neurodegenerativa.

O relatório de saúde do presidente, divulgado por seus médicos no início deste ano, o declara como apto para cumprir suas funções. Em entrevista ao jornal Daily Mail, o médico Robert Howard, especialista em psiquiatria da terceira idade na University College London, reforçou que não é possível diagnosticar uma pessoa sem examiná-la, mas o congelamento e a divagação de Joe Biden exibidos em público são sinais de alerta.

“Ele está bem 98% do tempo, mas há ocasiões em que parece ter perdido o fio da meada e outras em que não consegue parar de divagar. Essas flutuações e quedas na atenção são um sintoma fundamental do Parkinson”, considera o médico, um dos principais especialistas em demência do Reino Unido.

A doença apontada pelo médico é uma condição degenerativa do cérebro associada a sintomas motores, – como movimento lento, tremor, rigidez e comprometimento do equilíbrio -, problemas de sono e distúrbios de saúde mental. Em contrapartida, o clínico geral Mike Smith, do sistema de saúde do Reino Unido (NHS, na sigla em inglês) diz não haver dúvidas de que o candidato à reeleição tem comprometimento cognitivo.

“Ele se esforça para encontrar a palavra certa, às vezes termina uma frase com algo que não faz sentido. Por exemplo, na sua fala sobre o sistema de saúde, ele parece ter que se concentrar muito para se manter no tópico. O jeito como ele anda também indica que há alguns problemas de locomoção ali”, afirma.

O declínio cognitivo é caracterizado pela perda da capacidade de realizar atividades que estão diretamente relacionadas ao dia a dia, como lembrar datas, fazer cálculos, planejar e executar alguma tarefa.

Diagnóstico complexo

Em entrevista ao jornal Metrópoles, a neurologista Luciana Mendonça Barbosa, coordenadora do serviço de neurologia do hospital Sírio-Libanês de Brasília, afirma que a divagação em idosos é um sinal de alerta que requer uma avaliação neurológica cuidadosa porque pode indicar um quadro inicial de comprometimento cognitivo.

No entanto, o diagnóstico é mais complexo e não pode ser feito a partir de aparições públicas. O laudo leva em consideração outras questões, como a recorrência das alterações de memória no dia a dia, se as pessoas próximas percebem se o paciente tem dificuldade para realizar atividades que não tinha antes.

A especialista ainda pontua que a idade, por si só, não é um fator determinante para que um paciente apresente declínio cognitivo. Cada vez mais estudos mostram superidosos e centenários com bom estado de saúde e capacidade cognitiva preservada. “As doenças neurodegenerativas, que limitam a cognição, surgem e aumentam as chances de acontecer à medida que envelhecemos, mas não são todos os idosos que terão essas doenças”, conclui.

Sair da versão mobile