Se você tem acompanhado o noticiário nos últimos meses, provavelmente já ouviu falar da Ozempic, um remédio que está em falta nas farmácias do Brasil. Desenvolvido pela farmacêutica Novo Nordisk, o medicamento é prescrito para o tratamento de diabetes tipo 2, mas é também usado, de forma off label — fora da bula —, para obesidade e perda de peso.
Este segundo tipo de prescrição não é endossado pela empresa. A ‘febre’ do uso do Ozempic, no entanto, não é exclusividade do Brasil. Nos Estados Unidos e na Austrália, a busca desenfreada fez o remédio desaparecer das prateleiras e virar assunto nos principais jornais locais.
O fármaco febre entre famosos como Maiara, Patrícia Poeta, Rafa Kalimann e até mesmo estrelas internacionais como Christina Aguilera e Kelly Clarkson tem como princípio ativo a semaglutida, um hormônio sintético que ajuda a controlar os níveis de glicose no sangue e sinaliza ao cérebro a sensação de saciedade. Isso porque ele simula os efeitos do GLP-1 — um hormônio natural que é produzido no intestino.
Efeitos colaterais
O endocrinologista Paulo Rosenbaum, do Hospital Israelita Albert Einstein, explica que o uso do medicamento contra obesidade é seguro e já foi longamente estudado por cientistas. No entanto, o tratamento precisa ter acompanhamento médico para ser seguro. “Se bem indicados, os remédios à base de semaglutida são uma revolução na área da endocrinologia. Mas essa procura atual pelo Ozempic é perigosa porque, por mais que seja um medicamento seguro, ele não pode ser usado sem acompanhamento”, afirma.
O especialista explica que efeitos colaterais para cerca de 10% dos pacientes não cessam, e é preciso buscar outras alternativas. “As pesquisas mostram que cerca de 10% dos pacientes podem ter mais efeito colateral e, às vezes, não vão conseguir tolerar o remédio. Por isso é importante ter um acompanhamento médico. A grande maioria tolera bem, tem efeitos colaterais, mas são transitórios, que depois de um ou dois meses vão diminuindo”, pontua.
A gerente médica do laboratório Novo Nordisk, que fabrica o Ozempic, Tássia Gomide Braga, também ressalta que os efeitos colaterais são mais comuns no início do tratamento. A endocrinologista lembra que, por enquanto, o medicamento é aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) apenas para diabetes – a prescrição para perda de peso é off-label, ou seja, feita por conta e risco do médico responsável.
Ela também explica que os efeitos adversos costumam ocorrer durante o início do uso da medicação ou quando há aumento na dose da medicação. “O paciente deve buscar junto ao seu médico orientações para minimizá-los”, afirma Braga.
Perigos do uso indiscriminado do medicamento
O uso do Ozempic sem acompanhamento médico preocupa entidades e especialistas da área. Em janeiro de 2023, a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem) emitiu uma nota alertando que, assim como qualquer outro medicamento, a semaglutida “precisa de acompanhamento médico e só deve ser utilizada sob prescrição”. A procura desenfreada tem afetado inclusive pacientes com diabetes, que não conseguem encontrar o medicamento nas farmácias de São Paulo.
“Está faltando remédio para quem precisa, para quem tem diabetes, e isso é uma pena. Com essa moda das redes sociais, ficou essa loucura. Tem gente que nem deveria usar o Ozempic e fica usando com todos esses efeitos colaterais, e falta para quem deveria tomar”, avalia Rosenbaum.
Efeito rebote
Um dos riscos do uso indiscriminado é o chamado efeito rebote, que ocorre quando o peso perdido durante o tratamento é recuperado quando o paciente deixa de usar o remédio. Em alguns casos, o ganho de peso é até maior do que o que foi perdido anteriormente. “Quando você usa sem orientação você pode ter um efeito rebote, um ganho de peso fora do comum, especialmente quando o uso é interrompido sem um plano de ação”, explica o especialista.
“Se a pessoa não modificar o estilo de vida, não fizer exercício, ela vai engordar tudo de novo quando parar a medicação”, completa o endocrinologista. Para evitar engordar novamente, os especialistas recomendam que a interrupção da medicação seja feita de forma gradual e, é claro, acompanhada por mudanças na dieta e exercícios físicos regulares.