Kayleigh Avery, uma inglesa de 38 anos, teve uma psicose pós-parto em suas duas gestações, um quadro raro, que afeta duas mães em cada mil, mas que pode colocar em risco a integridade física da criança e da genitora. A mulher descreve os momentos como um “inferno de culpa”, tendo como sintomas alucinações e raiva intensa.
Características da psicose pós-parto
Enquanto a depressão pós-parto tem sintomas como baixa autoestima, desânimo, isolamento social e tristeza; a psicose leva a alucinações, insônia, agitação e raiva intensa. A condição é rara, aparecendo em cerca de 0,2% das puérperas. No entanto, existem quadros graves que envolve sintomas psicóticos e afetivos, havendo risco de suicídio e infanticídio, geralmente requerendo internação hospitalar.
Relato
“Sofri com essa doença cinco dias depois de dar à luz minha primeira filha, Daisy, e novamente com minha segunda filha, Jasmine. Felizmente, para mim, minha família incrível e a parteira notaram que algo não estava certo e obtive a ajuda que precisava muito rapidamente”, afirma a inglesa nas redes sociais.
Na primeira vez, Kayleigh conseguiu controlar os sintomas ao tomar antidepressivos. Em entrevista ao Daily Mail, ela conta que sabia que as chances de voltar a ter os sintomas no segundo parto eram altas e, por isso, separou medicações para tentar controlar a condição mais uma vez.
Após o parto de Jasmine, porém, a psicose retornou de forma muito mais grave, e ela sentia uma sensação de culpa constante. No caso de Kayleigh, a condição a deixou sem dormir e com medo de ser incapaz de cuidar dos filhos. Por medo de fazer algo errado, ela deixou de alimentar a bebê e não deixava que outras pessoas se aproximassem com medo de que a filha fosse sequestrada.
“Vivi um inferno ao ser consumida por essa culpa. Tenho certeza que se não tivessem feito uma intervenção a tempo, algo muito ruim poderia ter acontecido”, afirma ao jornal inglês.
Tratamento com eletrochoque
Para Kayleigh, os medicamentos não funcionaram e a mãe precisou ser internada por mais de um mês, onde foi submetida a diversas terapias, incluindo a eletroconvulsoterapia, conhecida como eletrochoque. A terapia foi criada em 1930, quando se observou que pacientes em surto psicótico que também sofriam de epilepsia pareciam ter melhora nos sintomas após as convulsões.
Os médicos começaram a usar cargas elétricas para induzir convulsões mas, pelo pouco controle da intensidade elétrica, muitos pacientes ficaram gravemente feridos e a terapia entrou em desuso. Apenas a partir dos anos 1980, com melhores tecnologias, ela foi pouco a pouco retomada para tratar depressão grave, transtorno bipolar e esquizofrenia.
Após o tratamento, Kayleigh se recuperou completamente e hoje é uma ativista para conscientizar as futuras mamães sobre os perigos da psicose pós-parto e de como é possível observar seus sinais para fazer o tratamento a tempo.