Anitta está em uma nova polêmica, após exibir uma nova tatuagem em suas redes sociais. A nova arte escolhida pela artista representa uma pseudociência, conhecida como constelação familiar. A cantora mostrou o desenho e falou sobre como a técnica alternativa tem melhorado sua vida.
“Essa tatuagem que fiz ontem é como se fosse o símbolo da constelação familiar, que é uma terapia que tem me ajudado muito na vida, a ser mais feliz, a viver com mais plenitude, a entender coisas da vida que, às vezes, fica difícil de entender”. Anitta revelou saber que nem todos gostam da prática, mas continuou: “Vai de cada um né, gente? Tem coisa que é bom para um e não é bom para o outro”.
O que é a constelação familiar?
Desenvolvida pelo psicoterapeuta Bert Hellinger, a constelação familiar é uma terapia alternativa que busca favorecer a compreensão de transtornos psicológicos, principalmente os que são estimulados pela prática das relações familiares ou de relacionamentos, a fim de identificar os fatores de estresse.
O método pseudocientífico, se popularizou quando passou a ser usado em mediações de conflitos na Justiça e atualmente integra o Sistema Único de Saúde (SUS), sendo duramente criticado por sociólogos e psicólogos por “violar direitos humanos e reforçar estereótipos”.
Os defensores da técnica dizem que a constelação familiar é uma prática terapêutica que consiste na resolução de um problema ou trauma por meio da representação do sistema familiar. Segundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a pseudociência tem sido utilizada no Brasil desde 2012 para a mediação de conflitos envolvendo divórcio, guarda, alienação parental e pensão alimentícia.
Comunidade médica contra
Sociólogos e psicólogos alertam, porém, que se trata de um método pseudocientífico que não somente ignora as ciências sociais e a psicologia como viola os direitos humanos, reforça estereótipos sobre os papéis sociais do homem e da mulher e “pode desencadear ou agravar estados emocionais de sofrimento ou de desorganização psíquica”.
Mesmo assim, em 2018, o Ministério da Saúde aprovou a inclusão da constelação familiar no rol de Práticas Integrativas Complementares oferecidas nos postos de saúde de todo o país. A portaria nª 702 de 2018 descreve que “a constelação familiar é indicada para todas as idades, classes sociais, e sem qualquer vínculo ou abordagem religiosa, podendo ser indicada para qualquer pessoa doente”.
Poema para Hitler
O método da constelação familiar foi proposto pelo missionário católico alemão Bert Hellinger em 1978, como citado anteriormente. Ao propor a abordagem, ele reuniu referências de psicologia com a sua experiência de 16 anos de trabalho na África do Sul com zulus e leituras taoístas. Ele considera que a origem dos conflitos nas relações está ligada à ancestralidade e que esses problemas podem se manifestar em várias gerações.
Na Alemanha, o psicoterapeuta é extremamente polêmico e já foi acusado de relativizar o nazismo. Ele é frequentemente lembrado como o autor de um controverso poema dedicado a Adolf Hitler, no qual pede ao leitor para que se identifique com o líder nazista, e até mesmo morou de aluguel, por algum tempo, no lugar onde ficava o segundo escritório de Hitler, em Berchtesgaden, no sul do país.
No poema, Hellinger reconheceu Hitler como um ser humano, destacando a importância de se entender as dinâmicas profundas que podem levar a atrocidades. “Aqueles que poderiam repetir o Holocausto somos nós, os vivos”.
Apoio a abusos
Além disso, Hellinger estabeleceu as três ordens do amor na técnica que seriam a base da estrutura familiar: o direito ao pertencimento à família, a hierarquia e o equilíbrio entre dar e receber. Entre os mais polêmicos ensinamentos do “psicoguru”, como é frequentemente chamado pela imprensa alemã, está a de que as crianças vítimas de incesto pelo pai tenham compreensão para com o agressor e até mesmo aceitem o contato sexual.
“A solução para a criança é que a criança diga para a mãe: ‘Mamãe, por ti, eu o faço com prazer’, e para o pai: ‘Papai, pela mamãe, eu o faço com prazer'”, ensina Hellinger em seu método. As duas maiores associações de terapia sistêmica na Alemanha, a DGSF e a SG, externaram críticas aos métodos do missionário.
Riscos da prática
A constelação familiar pode ser usada erroneamente em processos judiciais. A constelação familiar também é usada para desacreditar mulheres e, em alguns casos, força as vítimas a pedirem “perdão” a seus agressores, além de culpá-las pela violência sofrida.
“Entre as incompatibilidades [da prática] está o reconhecimento, enquanto fundamento teórico da Constelação Familiar, do uso da violência como mecanismo para restabelecimento de hierarquia violada – inclusive atribuindo a meninas e mulheres a responsabilidade pela violência sofrida”, diz o Conselho Federal de Psicologia em nota.
A prática da constelação familiar está em desacordo com as diretrizes normativas relacionadas a gênero e sexualidade estabelecidas pelo Conselho Federal de Psicologia porque reproduz conceitos patologizantes, ou seja, que tendem a classificar como anormais condições relacionadas a identidades de gênero, orientações sexuais, masculinidades e feminilidades que não se alinham ao “padrão hegemônico imposto para as relações familiares e sociais”, finaliza o CFP.