Rádio EM OFF
OPINIÃO

Chico Lucas reconhece a culpa que não tem

Secretário de segurança do Piauí, Chico Lucas, deu entrevista ao IelTV

Erlan Bastos
Colunista do EM OFF

Hoje vamos falar de um assunto que não costuma aparecer aqui na coluna, mas que ganhou repercussão nacional, infelizmente por ser uma grande tragédia. Falo do caso do envenenamento de uma família que aconteceu no Piauí, no litoral, em Parnaíba. Duas crianças morreram em agosto de 2024, e outras quatro pessoas da mesma família morreram em janeiro de 2025. Todos envenenados.

Lucélia Maria da Conceição, de 52 anos, uma vizinha da família, foi presa em agosto do ano passado, acusada de dar cajus envenenados para as duas primeiras vítimas, que eram crianças, e ficou presa desde então. Moradores da cidade, revoltados com o caso, destruíram a casa de Lucélia, que também quase foi linchada pela população. A polícia encontrou veneno na casa dela.

Cinco meses depois, outras pessoas da família passaram mal após comer o primeiro almoço de 2025. A mãe das crianças que morreram em agosto morreu nesse almoço. A polícia, então, identificou que o padrasto das crianças, Francisco de Assis Pereira da Costa, seria o serial killer. Ele chamava os enteados de ‘primatas’. Um dia após a prisão dele, um laudo que demorou cinco meses para ficar pronto apontou que os cajus não estavam envenenados, assim inocentando Lucélia Maria, presa injustamente.

Para Lucélia ser presa, a culpa não foi só da polícia, foi do Ministério Público e também da própria Justiça. Um erro sistêmico. Certamente, Lucélia buscará reparação judicial, com razão. Dessa história toda, o que chama atenção é a postura adotada pelo secretário de Segurança Pública do Piauí, Chico Lucas.

CHICO LUCAS

Em uma entrevista ao canal IelTV, o secretário assumiu uma culpa que não é sua. Teve a humildade e a grandeza de entender o que estava acontecendo naquele momento. Chico Lucas poderia ‘varrer’ a sujeira para debaixo do tapete, afinal, o laudo que apontava que os cajus não estavam envenenados estava em poder da polícia, que o próprio órgão divulgou. A decisão claramente não foi movida por ego ou vaidade, mas pelo que é certo. Uma pessoa inocente estava presa e houve um erro conjunto de poderes que fogem até do próprio secretário.

Mas, ao invés de ocultar o erro ou culpar terceiros, Chico assumiu o ônus, defendeu os policiais e apontou uma falha na estrutura de laboratório do estado, que teve que importar um reagente para poder ter o laudo (por isso a demora). Chico Lucas foi gigante. Ele mostrou, ao pé da letra, o significado da palavra gestor.