Nesta terça-feira (15), o jornal norte-americano “The New York Times” publicou uma matéria sobre a Rainha dos Baixinhos, intitulada: “Xuxa era a Barbie do Brasil. Será que foi um erro?”. O texto discute a falta de representatividade no Brasil, um país majoritariamente negro, e sobre como Xuxa influenciou os padrões de beleza da época.
De acordo com Ana Lonova, autora da reportagem, a apresentadora infantil voltou a ser o centro das atenções após a estreia de sua série documental, que ocorreu em meados de julho deste ano. A autora lembra que, durante o documentário, até mesmo a apresentadora levantou a questão sobre os padrões de beleza que ela ajudava a reforçar nos anos 80. Com o elenco de Paquitas todo branco e de cabelos loiros, muitas meninas cresceram querendo ser iguais a elas.
“Eu não via como errado. Hoje a gente sabe que é errado, né?”, reconheceu a Rainha dos Baixinhos. Durante uma entrevista ao “The New York Times”, Xuxa lamentou a possibilidade de ter deixado marcas negativas nas crianças que a assistiam. “Nossa, que trauma eu botei na cabeça de algumas crianças”. A cantora lembrou que não tomava as decisões, mas reconheceu o erro: “Mas eu endossei. Eu assinei embaixo”.
A matéria de Ionova também expõe um dado interessante sobre o Brasil dos anos 80 e 90: de acordo com a autora, foi durante o reinado da Rainha dos Baixinhos que cresceu no país o número de cirurgias plásticas. Segundo ela, tais procedimentos chegaram a ser realizados até mesmo em adolescentes. Tal informação reforça a questão do padrão estético.
Xuxa reconheceu seus privilégios
O texto também abordou as origens de Maria da Graça Xuxa Meneghel, que é descendente de imigrantes italianos, poloneses e alemães. A apresentadora atribuiu sua aparência “branca, loira, grande, perna comprida” como motivo de seu sucesso e completou: “acredito, então, que talvez seja por isso que eu tenha dado muito, muito certo naquela época”.
A autora relembra a tentativa de Xuxa de expandir seu reinado para os Estados Unidos em 1993 com o intuito de conquistar o mercado norte-americano, mas que a agenda lotada da cantora e a barreira idiomática foram os fatores que levaram o fracasso do programa. Na época, ativistas e acadêmicos negros americanos já discutiam a falta de representatividade no “Xou da Xuxa”.
“Nos anos 80, você não pegava uma novela em que a empregada não fosse negra”, ela lembrou. “A culpa não é do Xou da Xuxa, é a culpa de tudo que era passado para a gente como normal”, acrescentou a Rainha dos Baixinhos. De acordo com Xuxa, somente agora ela começou a entender melhor a influência que tem sobre a mídia e que tenta promover debates sobre representatividade, contra o racismo e os padrões de beleza. “Comecei a levantar bandeiras sem necessariamente saber que aquilo era uma bandeira”, ela contou. “Hoje eu quero muito”.