Quem assistiu o Big Brother Brasil 21, com certeza irá se recordar do dia em que o participante Rodolffo comparou os cabelos do professor de geografia João Pedrosa com uma peruca do homem das cavernas. Na ocasião, Pedrosa sentiu-se muito mal com a fala do sertanejo e foi às lágrimas ao vivo. Ele precisou ser amparado por Camilla de Lucas. A consultora de marketing e ex-sister, Sarah Andrade, participou do podcast Irmãos Dias e disse que a atitude de João foi exagerada.
“É meio delicado falar isso aí porque eu gosto dos dois. Olhando de fora – porque lá de dentro a gente sabe que a pressão é muito maior e foi até na semana seguinte que eu sai do programa (…) Acho que aconteceu como a gente fala em inglês: um overreact. Acho que balançou as estruturas sem tanta necessidade, porque não achei que foi feito de maldade. Não achei que foi um caso de racismo, mas eu entendo o outro lado que ele já estava apanhando da mesma pessoa por outros motivos dentro do jogo“, disse Sarah.
Segundo ela, João acabou se sentindo ofendido pela conjuntura do jogo e não necessariamente pelo comentário racista. “Entendo muito dele ter sentido muito como uma agressão, de certa forma, a pessoa dele, porque já tinham acontecido outras coisas no jogo e vai virando aquela bola de neve. Mas acho que naquele momento, naquela situação, não tinha sido feito por maldade, não”, ponderou Sarah Andrade em defesa à Rodolffo.
Na época, Frei David Santos, diretor executivo da ONG Educafro e ativista pela igualdade racial, concedeu entrevista ao Jornal O Globo e comentou sobre o caso que ganhou repercussão nacional. Segundo ele, Rodolffo cometeu racismo recreativo contra João. “É o ato desumano de pessoas brancas usar situações, físicas ou não, de pessoas negras para gerar risada no seu grupo de amizade,” disse ele.
“Uma das principais manifestações do racismo chama-se racismo recreativo. A relação do branco com o negro está em um nível tão de humilhação que passou a ser recreação o branco fazer piada contra o perfil, o cabelo, o nariz do negro. E isso é motivo de risada do próprio branco e dos demais em volta. O racismo recreativo é um dos mais cruéis que existe no Brasil e que precisamos combater em qualquer espaço: no BBB, na escola, na sociedade, na igreja, no ambiente de trabalho”, continou o ativista.
Para ele, é preciso que ocorra força de vontade para que esse tipo de situação seja combatida para que o país se cure do racismo. “Enquanto todos nós não fizermos esse combate com determinação e convicção, o Brasil não será melhor. Acho que todo o brasileiro que ama o Brasil deseja um Brasil bom para todos, sem humilhação, sem bullying e sem racismo,” ponderou Frei David.
E ele segue informando sobre a comparação feita pelo sertanejo: “Um dos elementos do corpo da pessoa negra que é mais humilhado é o cabelo, tanto da mulher como do homem. Entendemos que isso faz parte de uma tremenda ignorância. Coloque uma mulher loira de cabelo esticado dentro do trem de Saracuruna, na Baixada Fluminense, em direção ao Rio e coloque também, no mesmo trem, uma mulher negra que faz um penteado afro legal. Chegando no Rio, qual das duas está com a performance mais adequada?”.
“Se existe um cabelo melhor que o outro, a lógica mostra que o cabelo melhor é o afro. Ele tem um potencial de proteção, retém uma camada de ar fresco que ajuda na saúde mental da pessoa negra. Somente quem não entende nada de biologia fala que há um cabelo melhor que outro. Mas, se houvesse uma necessidade dessa classificação, não tenho dúvida de que o melhor é o que protege mais a cabeça do ser humano”, explicou ele.