Em depoimento ao Supremo Tribunal Federal nesta segunda-feira (9/6), o tenente-coronel Mauro Cid revelou que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) recebeu, leu e solicitou mudanças no rascunho da chamada “minuta do golpe” — documento que visava uma manobra para impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) após as eleições de 2022.
Segundo Cid, Bolsonaro não apenas teve acesso ao texto, como pediu alterações diretas, incluindo a retirada de trechos que previam a prisão de autoridades. Ainda assim, ele teria mantido uma exceção: o ministro Alexandre de Moraes, presidente do TSE na época, continuaria como alvo.
“Bolsonaro recebeu e leu o documento. Ele, de certa forma, o enxugou. Apenas o senhor [Moraes] permaneceria como preso”, afirmou Cid durante o interrogatório.
Etapa de instrução e interrogatórios
O depoimento de Mauro Cid marca o início dos interrogatórios dos réus do núcleo central do processo por tentativa de golpe de Estado. A sessão faz parte da fase de instrução criminal, quando são reunidas as provas do processo — incluindo depoimentos, perícias e eventuais diligências.
Estão entre os principais investigados:
- Jair Bolsonaro (PL), ex-presidente da República
- Anderson Torres, ex-ministro da Justiça
- Augusto Heleno, ex-ministro do GSI
- Almir Garnier, ex-comandante da Marinha
- Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa
- Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil
- Alexandre Ramagem, deputado federal e ex-diretor da Abin
- Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência
Os interrogatórios vão até sexta-feira (13/6) e seguem ordem alfabética. Todos os réus devem comparecer, mas podem optar por se manter em silêncio ou responder parcialmente. A exceção é o general Braga Netto, preso preventivamente no Rio de Janeiro desde dezembro, que participa por videoconferência.
A colaboração de Cid
Mauro Cid firmou acordo de delação premiada com o STF e tem revelado detalhes dos bastidores do governo Bolsonaro e das articulações golpistas. Seus depoimentos vêm sendo considerados centrais no processo conduzido pelo ministro Alexandre de Moraes, que também atua como relator do caso.
Após o encerramento da instrução, será aberto o prazo para as alegações finais da acusação e das defesas. O julgamento será realizado posteriormente, com base no relatório a ser elaborado por Moraes.