Robert Francis Prevost foi anunciado nesta quinta-feira (8) como o novo papa da Igreja Católica, adotando o nome de Leão XIV. Ele entra para a história como o primeiro pontífice nascido nos Estados Unidos, escolhido após dois dias de conclave. A decisão foi anunciada com a tradicional fumaça branca saindo da chaminé da Capela Sistina, sinalizando o consenso entre os cardeais eleitores.
Aos 69 anos, Prevost assume o comando da Igreja em um momento de grandes desafios internos e externos. Seu perfil moderado, com capacidade de diálogo entre alas conservadoras e progressistas, foi determinante para sua eleição, especialmente em um cenário de crescente polarização dentro da própria instituição.
Salário do novo papa
De acordo com a agência italiana Ansa, Leão XIV deverá receber um salário mensal de cerca de 2.500 euros — aproximadamente R$ 16,1 mil. É o mesmo valor que foi oferecido ao papa Francisco no início de seu pontificado, em 2013. No entanto, cabe destacar que Francisco recusou receber qualquer remuneração ao longo dos seus anos como papa. Fiel ao espírito de humildade de São Francisco de Assis, o argentino preferiu não ter salário fixo. “Não me preocupo com isso, sei que serei alimentado de graça”, declarou em 2023, no documentário Amém: Perguntando ao Papa.
Pouco antes de sua morte, em 21 de abril deste ano, Francisco doou 200 mil euros (cerca de R$ 1,2 milhão) de sua conta pessoal para detentos da penitenciária Casal del Marmo, em Roma.
Um papa americano e latino-americano
Prevost nasceu em 1955 em Chicago, em uma família de raízes europeias. Embora norte-americano, carrega também nacionalidade peruana, resultado de quase duas décadas de missão no Peru, onde atuou como bispo em Chiclayo. Essa experiência lhe confere uma perspectiva multicultural rara, o que o torna um pontífice com forte ligação à América Latina.
Antes de sua eleição, ele ocupava o cargo de Prefeito do Dicastério para os Bispos — um dos mais influentes da Cúria Romana — e foi nomeado também presidente da Pontifícia Comissão para a América Latina. Essas funções o colocaram no centro das decisões estratégicas da Santa Sé, inclusive na escolha de novos bispos ao redor do mundo, o que ampliou sua visibilidade entre os cardeais votantes.
Especialistas apontavam como improvável a escolha de um papa norte-americano, por razões geopolíticas. No entanto, Prevost era considerado o mais viável entre os dez cardeais dos EUA presentes no conclave, principalmente por sua capacidade de diálogo e sua formação em direito canônico pela Pontifícia Universidade de Santo Tomás de Aquino.
Reformas, desafios e polêmicas
Leão XIV assume a liderança da Igreja prometendo continuidade às reformas iniciadas por Francisco, especialmente no campo da transparência, da descentralização do poder e do enfrentamento à crise dos abusos sexuais. No entanto, sua trajetória não está livre de controvérsias.
Durante sua atuação no Peru, Prevost foi criticado por organizações locais por suposta omissão em casos de abuso sexual cometidos por membros do clero. Segundo o jornal The New York Times, ele teria se posicionado de forma conservadora em temas como a inclusão de conteúdos sobre gênero nas escolas e os direitos da população LGBTQIA+. Sua diocese negou envolvimento em qualquer tipo de encobrimento.
Ainda assim, em entrevista ao Vatican News, em 2023, Prevost reconheceu que a Igreja tem uma responsabilidade contínua no enfrentamento da crise dos abusos. “Não podemos fechar o coração, a porta da Igreja, às pessoas que sofreram. Ainda temos muito a fazer”, afirmou.
Nome e legado
Ao escolher o nome Leão XIV, Prevost retoma uma tradição histórica. O último papa a usar o nome “Leão” foi Gioacchino Pecci, o Leão XIII, eleito em 1878. Esse papa é lembrado por sua atuação intelectual, social e diplomática — especialmente pela encíclica Rerum Novarum, que lançou as bases da Doutrina Social da Igreja. Ao adotar esse nome, Prevost pode estar sinalizando um compromisso com a modernização responsável da instituição, o diálogo com o mundo contemporâneo e o equilíbrio entre tradição e mudança.